Banco Central deve manter taxa de juros a 13,75%, dizem economistas
Copom anuncia nova decisão sobre Selic nesta quarta-feira; juros já altos e menor pressão da inflação colaboram para manutenção
É consenso entre os analistas de bancos, corretoras e consultorias de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) deve decidir por manter, mais uma vez, a taxa Selic em seu patamar atual, de 13,75% ao ano.
O colegiado, que se reúne a cada 45 dias para revisar a taxa de juros de referência da economia brasileira, anuncia no fim da tarde desta quarta-feira (26) sua nova decisão.
Se confirmadas as expectativas, será o segundo encontro consecutivo em que o Copom opta por não mexer nos juros, depois de um ano e sete meses em que realizou 12 altas consecutivas na Selic.
Neste período, a taxa saiu de 2% ao ano, em março de 2021, para 13,75%, em agosto, no ciclo de alta mais veloz e mais intenso desde o início dos anos 2000.
Por trás das apostas na manutenção dos juros, está o entendimento de que os juros já estão em um nível suficientemente alto agora e de que a inflação começou a dar os primeiros sinais de arrefecimento, de acordo com bancos e corretoras consultados pelo CNN Brasil Business.
Isso não significa, porém, que o Brasil voltará a ver em breve um cenário de preços controlados e juros baixos. Na visão dos analistas, o alívio na inflação será lento, e os juros só devem voltar a baixar em meados de 2023.
De acordo com o Boletim Focus, relatório semanal do Banco Central, a expectativa geral do mercado é de uma Selic nos mesmos 13,75% até o final de 2022 e a 11,25% – uma taxa ainda de dois dígitos – ao fim de 2023. Os números consideram a mediana das projeções de mais de 100 bancos e casas de análise consultados pelo BC.
“Entendemos que, após um período prolongado de inflação alta, o processo de desinflação apenas começou – e tende a ser lento em itens como serviços”, informou a equipe de análise econômica do banco Itaú em relatório a clientes.
O banco acredita na manutenção da Selic pelo BC em 13,75% nesta quarta-feira, e entende que ela ficará parada neste patamar até o segundo semestre do ano que vem, quando deve, então, voltar a ser cortada gradualmente até chegar aos 11% em dezembro de 2023.
“Os itens fora do grupo de alimentos estão vendo aumentos generalizados”, afirmou o Santander em relatório. O banco também acredita na Selic estável nos 13,75% até o fim de 2022 e em 12% ao fim de 2023.
“De maneira geral, os números significam que as pressões inflacionárias permanecem espalhadas, com componentes como serviços desempenhando um papel fundamental nas altas leituras recentes. Isso significa um lento processo de desinflação à frente”, completa.
Alívio na inflação
Para a XP, há diversos fatores que ajudam a frear a inflação atualmente e permitem ao Banco Central interromper, agora, o ciclo de altas dos juros.
Entre eles, a corretora cita as quedas recentes nos preços do barril de petróleo e dos combustíveis, o processo de normalização das cadeias globais de produção e dos choques de preços na indústria, depois de falta de produtos durante a pandemia, e também os aumentos de juros que já estão sendo realizados nas principais economias do mundo, como nos Estados Unidos.
São elementos que, no Brasil, ajudaram o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial de inflação do país, a ter em setembro seu terceiro mês seguido de queda.
Em 12 meses, a inflação acumulada está em 7,17%. É um valor ainda acima no limite máximo de tolerância da meta estipulada pelo governo, que é de 3,5% com banda de tolerância entre 2% e 5%.
“Em nossa visão, a política monetária doméstica já está em um nível significativamente restritivo, de forma que faz sentido o Copom esperar um tempo para avaliar seu efeito sobre a dinâmica da inflação”, escreveu a equipe econômica da XP, que também aposta na manutenção da Selic nesta quarta-feira.
À espera do próximo governo
Para a corretora, é possível que a Selic seja reduzida a 10% no próximo ano – mas os cortes podem acabar menores a depender de como serão controlados ou ampliados os gastos públicos no próximo governo, a partir de janeiro.
“Ambos os candidatos presidenciais afirmaram que vão reformar o teto de gastos no próximo ano”, diz a XP. “Considerando que a dívida pública e o serviço da dívida continuaram elevados, uma nova (e crível) âncora fiscal é condição fundamental para que as expectativas de inflação convirjam para a trajetória da meta.”
É uma visão compartilhada pelos analistas do Itaú: “A intensidade e data de início de um eventual ciclo de cortes estarão particularmente condicionadas a sinalizações sobre o rumo das contas públicas, em especial no que diz respeito a potenciais mudanças no atual arcabouço do teto de gastos que alterem a capacidade de convergir para superávits primários recorrentes e estabilização da relação dívida/PIB”, disse o banco.
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