*”Dados econômicos vêm 'menos ruim' do que o esperado e fazem Bolsa subir e dólar cair”*
Nos últimos dias, dados econômicos vieram menos ruins do que o esperado por economistas, aumentando o otimismo do mercado financeiro, que retoma o apetite a risco conforme economias reabrem e o número de novos casos de Covid-19 na Europa e nos Estados Unidos desacelera. O movimento levou a Bolsa brasileira aos 93 mil pontos, alta de 2,14%, nesta quarta-feira (3), maior valor desde 6 de março, antes dos seis circuit breakers —paralisação temporária nas negociações em fortes quedas— daquele mês. O dólar segue em queda livre. Nesta sessão, a moeda recuou 2,45%, a R$ 5,085, menor valor desde 26 de março. Durante o pregão, a moeda chegou a ser negociada a R$ 5,02. O turismo está a R$ 5,36. Com o recuo de cerca de 14% desde que atingiu o recorde nominal (sem contar a inflação) de R$ 5,90 em 13 de maio, o real deixou de ser a moeda que mais perde valor ante o dólar entre 2020, indo para o terceiro lugar no ranking de desvalorização, atrás da rupia de Seychelles e da kwacha de Zâmbia. Nesta quarta, o mercado reagiu a uma queda menor do que o esperado da indústria brasileira em abril, apesar de ser o pior resultado da série histórica, que vem desde 2002. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a produção industrial caiu 18,8% na comparação com março e 27,2% na comparação com abril do ano passado. Economistas consultados pela Bloomberg, no entanto, esperavam retração de 28,3% com relação a março de 2020 e de 36,1% na comparação com abril do ano passado.
Nos Estados Unidos, dados do Instituto ADP apontam um desemprego menor do que o esperado no setor privado. Foram cortadas 2,76 milhões de emprego em maio, contra uma expectativa de corte de 9 milhões. “Nos EUA, a flexibilidade de contratar e mandar embora é maior. Dificilmente, os americanos terão um decréscimo de desemprego. Eles estão no pico da pandemia e, talvez, os empregadores não estejam mandando embora agora”, diz Roberto Dumas Damas, professor de economia do Insper. Já o setor de serviços americano, medido pelo índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês), teve leve melhora em maio subindo para 45,4 no mês passado, ante 41,8 em abril, que havia sido a leitura mais baixa desde 2009 e a primeira contração desde dezembro de 2009. Economistas consultados pela Reuters previam que o índice subiria a 44 em maio. Leitura abaixo de 50 indica contração do setor de serviços, que responde por mais de dois terços da atividade econômica dos EUA. "Por mais que o setor ainda se situe em território contracionista, a forte melhora das expectativas é bem recebida por investidores. Apesar disso, a produção, os novos pedidos, o emprego e os preços do setor continuaram em níveis historicamente baixos frente a uma demanda doméstica e internacional que segue pressionada", diz relatório da Guide Investimentos.
Na China, depois da indústria registrar expansão em maio, foi a vez do setor de serviços superar expetativas, com crescimento do PMI para 55 pontos. O mercado esperava um crescimento de 44,4 pontos em abril para 47,3 pontos, apenas. “A China está se recuperando por meio de anabolizantes do Estado, com bancos locais emprestando montanhas de dinheiro para obras de infraestrutura. O país deve crescer 1 a 1,5% este ano”, diz Dumas. Os dados levaram investidores a apostarem em uma retomada econômica mais rápida e forte, levando ativos de segurança como ouro e dólar a perder valor no mercado interacional. Em Nova York, o índice S&P 500 subiu 1,36%, Dow Jones teve alta de 2% e Nasdaq registrou ganhos de 0,8% e se aproximou da máxima histórica. “Fazer previsão em tempo de crise é mais difícil. Não é que os dados estejam bons, mas há mais erro nas previsões, que são baseadas em dados históricos, passados. O impacto do coronavírus na economia vai ser feio ainda”, diz Joelson Sampaio, coordenador do curso de economia da FGV. Na Europa, o PMI composto, que combina serviços e indústria, também apresentou uma leve melhora, subindo de 13,6 em abril, menor pontuação histórica, para 31,9 em maio.
Também contribuiu para a queda do dólar, a emissão de dívida soberana no mercado internacional pelo Tesouro Nacional, um sinal de que há demanda por ativos brasileiros e reforça a venda de dólares num contexto em que o real ainda é tido como uma moeda mais barata em relação a seus pares, o que respalda a correção recente na taxa de câmbio. Além disso, o fluxo cambial ao Brasil tem melhorado nas últimas semanas, com o aumento da oferta de dólar dando saída para investidores que buscam reduzir posições contrárias ao real, após a forte desvalorização da moeda brasileira nos últimos meses, levando a divisa brasileira a registrara a maior avlorização entre os pares nesta semana. A queda do dólar tem levado as companhias aéreas a registrarem fortes ganhos na Bolsa, já que seus custos e dívidas são na moeda americana. Contribuem também o plano de retomada dos voos neste mês e a recuperação internacional do setor. Segundo a Iata (Associação Internacional de Transporte Aéreo), o fluxo de passageiros aumentou 30% em maio com relação a abril. Nesta quarta, as ações da Gol subiram 16,4% e as da Azul, 10%. A maior alta do Ibovespa, porém, foi do IRB Brasil RE, cujas ações saltaram 25%.
Créditos FPA
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