Qual a importância do grau de investimento? Professora de economia ensina o que é preciso saber sobre o papel das agências de risco internacionais.
A Fitch baixou a nota do Brasil de BBB para BBB- na quinta-feira (15), mas manteve o país no nível de grau de investimento. Há cerca de um mês, a Standard and Poor's (S&P) diminuiu a nota nacional de BBB- para BB+, incluindo o país na categoria de especulação. Apesar de as agências serem alvos de crítica por erros de previsão – como o clássico caso Lehman Brothers, em 2008, quando a S&P dava nota "A" ao banco dias antes de ele quebrar –, os ratings seguem como critérios importantes para as decisões dos investidores internacionais.
Na visão da economista e professora do Insper, da FGV-SP e da Fecap, Juliana Inhasz, uma urgente reforma fiscal e a resolução do embate político que mantém a economia parada são as principais alternativas para que o Brasil volte a ter credibilidade econômica no cenário internacional. Ela explica o que é grau de investimento e os impactos do rebaixamento da nota na economia do país.
O que é grau de investimento
É uma espécie de selo que indica a qualidade do investimento em determinado país ou empresa e seu risco de crédito – o risco de o investimento não ser pago. A medida é utilizada para determinar se o país é um bom pagador dos títulos de sua dívida pública de longo prazo e está atrelada ao rating, nota atribuída aos países indicando qual o possível risco para um investidor aplicar seus recursos. Países considerados seguros possuem o selo de grau de investimento – o Brasil mantém o seu na Moody's e na Fitch.
As agências comparam de forma mais completa economias distintas e, através da relação entre risco e retorno, classificam os países segundo o grau de investimento. O mercado financeiro globalizado, no entanto, tirou parte da responsabilidade das agências sobre a decisão dos investidores internacionais, que têm conhecimento do que acontece nos mercados. As agências não trazem, na maioria das vezes, um elemento novo, elas apenas assinam aquilo que o mercado já estava vendo.
O que é rating
De forma simplificada, o rating é uma classificação da qualidade de um pagador, medindo a possibilidade de ele cumprir ou não com suas obrigações frente ao credor. Como as empresas possuem limitações para classificar o risco de diversos títulos de crédito, elas pagam para que as agências de risco classifiquem as dívidas que elas possuem em termos deste risco. A classificação efetuada por agências como Standard & Poors's, Moody's e Fitch Ratings (as três mais conceituadas no mercado mundial) é revista de forma periódica, já que a qualidade do crédito muda de tempos em tempos (de acordo com condições econômicas e conjunturais).
A classificação leva em consideração tanto técnicas quantitativas, como análise de balanços, fluxo de caixa e projeções estatísticas sobre a economia, como elementos qualitativos (questões políticas, jurídicas e a percepção sobre a situação econômica e política do emissor da dívida).
O que é levado em conta na avaliação das agências
Além da dívida pública, outros fatores têm peso na decisão dasagências de investimento. No caso do Brasil, o ambiente político tem sido uma variável de peso na atual conjuntura. "A inconstância política, a confusão de ações econômicas, os sinais políticos contraditórios (ora o governo quer o Cunha fora, ora o governo tenta se alinhar ao Cunha para aprovar reformas), tudo isso é levado em consideração", afirma Juliana Inhasz.
Indicadores econômicos perceptíveis no cotidiano – como o aumento dos preços, da taxa de desemprego e da taxa de juros – são fatores de peso, e a mensuração da capacidade de solvência (que é capacidade de pagamento do país no longo prazo) depende dos fatores econômicos. Pedaladas fiscais e a confirmação dasirresponsabilidades fiscais do governo foram determinantes para o rebaixamento.
A influência do rebaixamento nos preços e juros
O rebaixamento sinaliza para os investidores que o país está mais arriscado, o que pode levar a mudanças de preço doméstico e depreço dos importados. A saída de dólares do país eleva a taxa de câmbio e encarece os produtos importados (com menos dólares na economia, é preciso dar mais reais pela mesma quantidade de dólar). Portanto, parte do aumento da inflação vem dos bens importados diretamente. Os preços domésticos podem ser contaminados pela depreciação cambial, já que parte significativa dos bens intermediários (insumos de produção) são importados. Setores como cosméticos, produtos de saúde e higiene, vestuário e fertilizantes agrícolas são afetados, já que importam parcela elevada de seus bens intermediários. Logo, há também a perspectiva de aumento de preços domésticos.
Também há efeito sobre juros. Como o Brasil agora é considerado mais arriscado, será necessário pagar taxas de juros mais elevadas. O aumento de juros inibe o consumo por um lado (já que está mais caro pegar emprestado), mas encarece o consumo daqueles que precisam crédito, o que também pode comprometer os preços.
O dólar subirá mais?
Quando um rating cai é provável que parte dos investimentos que o país possui saia dele, o que faz com que a taxa de câmbio aumente. É difícil garantir que esse movimento aconteça, especialmente porque os agentes econômicos criam expectativas e, muitas vezes, já antecipam parte destes efeitos. Há, no entanto, a perspectiva de que a taxa de câmbio permaneça alta, e esse efeito é quase certo: a incerteza frente à economia e sua condução levaram ao rebaixamento e devem levar à manutenção de uma taxa de câmbio elevada, corroborada pela saída de investimentos.
Com quem o Brasil pode aprender?
Os casos recentes de perda de grau de investimento são Rússia (2015), Croácia (2012), Hungria (2012), Portugal (2012), Chipre (2012), Tunísia (2011), Grécia (2010), Romênia (2008), Uruguai (2002), Eslováquia (1998) e Colômbia (1999). Dentre os países citados, um bom exemplo de restabelecimento econômico é a Colômbia. Uma das últimas classificações da S&P indicam que as boas práticas fiscais e monetárias da economia colombiana, combinadas com as melhores condições de segurança doméstica, elevaram o investimento, impulsionando o crescimento. Aliado ao ciclo de commodities, o governo colombiano aproveitou o momento para adotar mudanças fiscais estruturais e, através do estabelecimento de receitas extras, melhorar o perfil do endividamento público, desenvolvendo o mercado de capitais doméstico. As medidas adotadas devem auxiliar o crescimento econômico nos próximos anos, impulsionando a economia. Já a Croácia, por exemplo, ainda não conseguiu se reerguer. Sua dívida é muito elevada, passando de 34% em 2007/2008 para 100% em 2015. Além disso, teve crescimento negativo nos últimos cinco anos.
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