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Economista Belluzzo afirma: o Brasil pode voltar à Série A

Pedro França / Agência Senado
Créditos da foto: Pedro França / Agência Senado
A crítica conservadora ao governo atribui a crise atual à herança ‘desenvolvimentista’ do ‘Dilma 1’, período em que, no entender do vulgo ortodoxo, um indevido intervencionsimo estatal atropelou a harmoniosa condução da economia pelas forças de mercado, desregulou a matriz de crescimento e comprometeu a estabilidade do país.
 
O diagnóstico suscita controvérsias. A lógica terapêutica que o acompanha recomendaria entregar a nação a um spa de restauração dos fundamentos neoliberais, ‘a supostamente infalível, atemporal e insuperável “velha matriz macroeconômica”, aquela que levou o mundo à crise financeira de 2008’, fuzila o economista Luiz Gonzaga Belluzzo em artigo (abaixo) reproduzido por Carta Maior.
 
Os desafios acumulados na engrenagem econômica brasileira são sérios, de fato. Mais grave, porém, como sugere e a redobrada atualidade desse texto, é a incapacidade de enxergar suas causas por entre a neblina de preconceitos e platitudes ideológicas que pretendem acomodar a doença ao medicamento disponível no estoque dos interesses estabelecidos.
 
A falta de ar do metabolismo econômico do país remonta a desequilíbrios estruturais que precedem o pico atual, mostra Belluzzo.
 
O colapso origina-se, na verdade, segundo ele, no “desmanche” da estrutura produtiva criada ao longo das cinco décadas inauguradas nos anos 30 do século XX.  ‘Depois de liderar - até meados dos anos 70 - a "perseguição" industrial entre os países ditos periféricos, com forte atração de investimento direto na manufatura, o Brasil caiu para a Série B do torneio global das economias "emergentes", explica o professor da Unicamp.
 
Palmeirense, que já viveu a crise do seu time como dirigente quando lançou as bases da arena que hoje emerge como poderoso alicerce financeiro do clube, Belluzzo acredita que o Brasil pode voltar à série A.
 
Neste artigo, o amigo sincero --e por isso crítico— da Presidenta Dilma, explica como. Usar de forma inteligente as vantagens que possui e as promessas nas áreas de petróleo e gás; bem como o investimento em infraestrutura –ambos ancorados  na adoção de políticas industriais fundadas na formação de “redes de produtividade” com seus fornacedores, é a chave, no seu entender, cujo acionamento --cada dia fica mais claro-- depende de uma repactuação política do país.
 
Longe de se acomodar ao carimbo de desenvolvimentista, o professor cujo último livro ‘O capital e suas Metamorfoses’ discute justamente a incapacidade do sistema capitalista para atender demandas e urgˆncias do desenvolvimento no século XXI, relembra aos esquecidos: ‘No Brasil dos anos 50, 60 e 70 –quando o país liderou o crescimento mundial--  havia sinergia entre o investimento público, então comandado pelas empresas estatais, e o setor privado’. Leia a seguir o artigo de Luiz Gonzaga Belluzzo.
 
***
 
O Brasil da Série B - Luiz Gonzaga Belluzo, na Carta Capital - publicado em 27/04/2014
 
A boa entrevista do ministro Mangabeira Unger concedida ao jornal Valor expõe o caráter mesquinho e limitado da controvérsia travada nos arraiais dos economistas. A mesquinharia denuncia a pobreza das indagações e a miséria dos pressupostos.
 
Exemplo do gênero é o empenho da opinião dominante em deplorar o que não existiu: a herança “desenvolvimentista” do primeiro mandato Dilma. Insistem, ademais, na baboseira da “nova matriz macroeconômica”, argumento esgrimido pela tropa que reverencia a supostamente infalível, atemporal e insuperável “velha matriz macroeconômica”, aquela que levou o mundo à crise financeira de 2008.
 
Ao sacudir o espantalho do desenvolvimentismo, os simpáticos economistas embaralham as cartas, mas não sabem jogar. Suas abstrações de má qualidade lembram as observações de Einstein a respeito da tentativa de Schroedinger de formular um modelo que teria superado a Teoria da Relatividade: “A última tentativa do professor Schroedinger deve ser julgada apenas por suas qualidades matemáticas, mas não do ponto de vista da ‘verdade’ e congruência com os fatos da experiência”.
 
A papagaiada sobre o desenvolvimentismo começa por atropelar os fatos da experiência, leia-se a história dos fenômenos sociais e econômicos. O “desenvolvimentismo”, enquanto projeto econômico e social nos países da periferia, é uma experiência histórica singular. Nasceu nos anos 30, no mesmo berço que produziu o keynesianismo nos países centrais. A onda desenvolvimentista e a experiência keynesiana tiveram o seu apogeu nas três décadas que sucederam o fim da Segunda Guerra Mundial. O ambiente político e social estava saturado da ideia de que era possível adotar estratégias nacionais e intencionais de crescimento, industrialização e avanço social.
 
Comparada a qualquer outro período do capitalismo, anterior ou posterior, a era desenvolvimentista e keynesiana apresentou desempenho muito superior em termos de taxas de crescimento do PIB, criação de empregos, aumentos dos salários reais e ampliação dos direitos sociais e econômicos.
 
opus magnum das concepções que se lambuzam na crítica do desenvolvimentismo inexistente foi o “desmanche” da estrutura produtiva criada ao longo das cinco décadas inauguradas nos anos 30 do século XX. Depois de liderar, até meados dos anos 70, a “perseguição” industrial entre os países ditos periféricos, com forte atração de investimento direto na manufatura, o Brasil caiu para a Série B do torneio global das economias “emergentes”.
 
A vitória do Plano Real sobre a hiperinflação não impediu que a execução do plano cobrasse uma conta salgada. Insufladas pelo primitivismo das “aberturas” comercial e financeira dos anos 90, a taxa Selic real média de 24% ao ano e a valorização cambial ministraram extrema-unção à indústria brasileira. A infeliz agoniza.
 
A desdita foi agravada pela escalada chinesa e seu “anacrônico” projeto nacional de integração à economia global. A integração chinesa à economia mundial em transformação – o sinoaberturismo – desrespeitou os cânones das novas e ridículas teorias do desenvolvimento ensinadas nas universidades americanas. Apoiados no investimento direto estrangeiro, em suas empresas estatais, em seus bancos idem e no câmbio administrado (argh!), os chineses sustentaram taxas elevadas de investimento e alcançaram em três décadas o almejado adensamento das cadeias produtivas, primordialmente articuladas no espaço intra-asiático. O feito resultou na redistribuição do valor agregado manufatureiro global para o colo do Império do Meio e de seus vizinhos. O México do Nafta e das “maquiladoras” realizava a façanha de elevar a sua participação nas exportações mundiais de manufaturas e reduzir a sua parte no valor agregado global.
 
Enquanto isso, o Brasil dos Malans, Francos, Paloccis e Meirelles enganava a torcida com a “abertura da economia”, apontada como critério de classificação do País para disputar a Série A do torneio global. Os “aberturistas da nova matriz” expulsaram o investimento nacional e estrangeiro da manufatura e lançaram os Canarinhos na Segunda Divisão. Conseguiram a proeza da integração que desintegra.
 
Na segunda metade da década dos 2000, o Brasil escapou de vexame maior – capotar para a Série C – ao se valer da dotação de recursos naturais e do dinamismo do agronegócio para crescer 4% ao ano. A situação benigna das commodities ensejou a promoção de 30 milhões de brasileiros à cidadania econômica. O clima benfazejo, no entanto, atolou a indústria no câmbio valorizado, nas tarifas caras dos insumos de uso geral (energia elétrica) e na estrutura tributária kafkiana.
 
O Brasil tem as condições de voltar à Série A se usar de forma inteligente as vantagens que possui e as promessas que se revelaram recentemente nas áreas de petróleo e gás. Não basta concentrar os esforços na manutenção do câmbio real competitivo ou esperar a queda dos juros. O investimento “autônomo”, diz o FMI no World Economic Outlook de abril, é importante para a formação da taxa de crescimento nas economias capitalistas contemporâneas.
 
Coordenado pelo Estado, o investimento em infraestrutura, por exemplo, permitiria a adoção de políticas industriais fundadas na formação de “redes de produtividade” entre as construtoras e seus fornecedores. As encomendas para os provedores nacionais devem estar submetidas, à moda dos vencedores asiáticos, a critérios de desempenho para as empresas encarregadas de dar resposta à demanda de equipamentos, peças e componentes.
 
No Brasil dos anos 50, 60 e 70 havia sinergia entre o investimento público, então comandado pelas empresas estatais e o setor privado. O setor produtivo estatal investia à frente da demanda corrente e, assim, funcionava como um provedor de externalidades positivas para as empresas privadas. 


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