"Caí no conto da sereia." É a definição que o médico Rogério Kuga, 40, dá ao seu investimento nas ações da OGX, petroleira de Eike Batista, que entrou anteontem em recuperação judicial.
Kuga apostou no forte desempenho projetado para a companhia do megaempresário e vendeu ações de empresas como Petrobras, Bradesco e Vale para colocar tudo nos papéis da OGX.
"Vendi todas as ações que tinha de outras empresas e coloquei na OGX diante de toda aquela perspectiva promissora para a empresa. Achava que os papéis estavam baratos", disse, sem revelar o valor que aplicou.
O preço médio das ações compradas por Kuga foi de R$ 4,90. Ontem, os papéis fecharam cotados a R$ 0,13 --uma desvalorização de 97,35%.
O economista Aurélio Valporto, 50, também se frustrou com a OGX. "Comprei ações de uma empresa que dizia ter descoberto muito petróleo, o que não se mostrou real depois. Foi uma fraude", diz.
"Ele [Eike Batista] vendeu uma série de ações em maio e junho, pouco antes de anunciar que os poços eram secos", completa Valporto.
Até abril, último dado disponível, havia 51,9 mil investidores pessoas físicas na OGX --8,6% do total de 600,9 mil investidores pessoas físicas na BM&FBovespa.
No início de julho, a companhia informou que pode parar em 2014 o seu único campo de petróleo em produção, o de Tubarão Azul.
FUTURO
Com o pedido de recuperação judicial, as ações deixam de compor, a partir de hoje, os índices da BM&FBovespa, entre eles o Ibovespa. Os papéis, no entanto, seguem sendo negociados, mas em "situação especial".
De acordo com Marcelo Sampaio, advogado do escritório Mattos Filho, quem permaneceu com os papéis da empresa precisa ter em mente que o acionista é o último a ser ressarcido no processo de recuperação judicial. Antes, recebem os credores, entre funcionários, fornecedores e até o governo.
Caso o plano de recuperação fracasse ou não seja aprovado pela Justiça, o acionista perde todo o investimento.
Por outro lado, também há a possibilidade de que a recuperação seja um sucesso, e as ações voltem a subir.
Neste caso, ganhariam aqueles que permaneceram com as ações da empresa.
"Comprar ações de uma companhia pré-operacional é um risco em dobro", diz Amerson Magalhães, diretor da Easynvest Título. "É preciso estar ciente dos planos dessa empresa e saber os indícios que levam a crer que ela será produtiva no futuro."
Mesmo assim, diz Magalhães, o investidor deve ter consciência de que há chance de perder todo o dinheiro a qualquer momento e, por isso, não deve aplicar um recurso considerado indispensável para o futuro. Fonte: Folha de SP
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